quinta-feira

DECLARAÇÕES DO REALIZADOR

QUANDO EU MORRER é uma reflexão a propósito da morte.

Acho que todos nós, em algum momento, pensamos um pouco sobre a morte de uma forma abstracta, conversamos sobre isso, aceitamos a explicação de uma ou outra religião, contrapuzemos teorias filosóficas, elaboramos as nossas próprias teorias mais ou menos fundamentadas. Também em algum momento da nossa vida, quanto mais não seja quando ela parece fugir, pensamos sobre a nossa própria morte.

O título deste filme pretende provocar essa reflexão.

Pensar na minha morte, faz-me pensar na minha vida.
Todos sabemos que vamos morrer. É como se costuma dizer, a única das nossas certezas absolutas. Todos os dias morrem milhões de pessoas, no entanto continua a ser um momento muito difícil para quem está próximo da morte (a não ser que, acreditamos nós, essa morte seja totalmente inesperada e instantânea) e principalmente para quem fica, os amigos e família.

Em 1982 vi morrer o meu irmão mais novo. Eu tinha dezassete anos e ele tinha doze. O Miguel tinha uma insuficiência renal e não resistiu ao processo de hemodiálise. Eu estava com ele no hospital, na noite em que morreu.
Durante algum tempo não consegui lidar com todos os sentimentos provocados por esse acontecimento. Nem sequer os conseguia identificar.
Mas defendi-me com racionalizações do género “ foi melhor para ele”, “ estava a sofrer muito”. Acreditei que a vida dele continuaria, estivesse aonde estivesse, num sítio melhor. O processo de luto tem fases distintas e durante muito tempo, tive grandes dificuldades em lidar com a morte do meu irmão. O meu primeiro filme, “aDeus” conta a história de um personagem que voa para fora da terra e quando chega escreve um postal a dizer que está óptimo e que tudo é fantástico. A minha primeira forma de lidar com a morte foi esta: a não aceitação, a negação da morte e da limitação da condição humana.

Em 2003 morreu a minha mãe. Morreu com un cancro, depois de todo o sofrimento que essa doença implica. Eu amo a minha mãe e sinto imensas saudades dela. No dia da sua missa de sétimo dia, eu e a Patrícia, demos à família a notícia de que iamos ter um filho, o nosso segundo filho.
O conflito de sentimentos foi brutal, mas nessa altura, quando o teste da farmácia deu positivo, a minha mãe tinha morrido há dois dias, tudo se tornou simples, claro e evidente. Foi como um despertar espiritual. A vida continua.

“Quando eu Morrer” parte desta situação e pretende colocar o espectador, neste conflito. Procura simplificar ao máximo a questão da morte e o mais importante que pretendi dizer é que “Quando eu Morrer” alguém há-de nascer.

Luís Vieira Campos, Setembro de 2007

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